11 de jul. de 2007

A CASA IDEAL in music

"Casinha Branca (Gilson e Joram)
Eu tenho andado tão sozinho ultimamente / que nem vejo à minha frente nada que me dê prazer... / sinto cada vez mais longe a felicidade / vendo em minha mocidade tanto sonho perecer / eu queria ter na vida simplesmente / um lugar de mato verde pra plantar e pra colher / ter uma casinha branca de varanda um quintal e uma janela / só pra ver o sol nascer / às vezes saio a caminhar pela cidade / à procura de amizade / vou seguindo a multidão / mas eu me retraio olhando em cada rosto / cada um tem seu mistério / seu sofrer, sua ilusão / eu queria ter na vida simplesmente / um lugar de mato verde pra plantar e pra colher / ter uma casinha branca de varanda / um quintal e uma janela / só pra ver o sol nascer"
A busca da casa ideal nessa música é refúgio, como o homem da Arcádia, vai buscar na natureza, construir um abrigo físico que o acolha... o poeta lembra algo também muito importante para nós arquitetos: "cada um tem seu mistério"... portanto cada um tem a sua casa, de forma particular...
"O arquiteto é o intérprete, o fio condutor que permite que a voz arquitetônica seja escutada. Poder interpretá-la significa re-criá-la, voltar a criar, mas sem traí-la. Um arquiteto deve ter a capacidade de ouvir as vozes dos problemas a resolver, respeitar sua vontade de ser e interpretar sua música. Seria absurdo que um cantor, ao interpretar uma canção, troque a letra e a melodia originais, por querer demonstrar seu talento e capacidade. Na atualidade estes absurdos – dentro do âmbito arquitetônico – são mais do que exceções." (1)
Gente humilde (Chico Buarque de Holanda) (trecho)
"...São casas simples / Com cadeiras na calçada / E na fachada / Escrito em cima que é um lar / Pela varanda / Flores tristes e baldias / Como a alegria / Que não tem onde encostar..."
Me dei conta de que até agora, não havia falado das varandas... espaço de transição, área de descanso, área de estar, área de receber... são várias as funções admitidas a esse tipo de espaço, além é claro da proteção que permite às janelas, fachadas e acessos, ser contar que fazendo parte das fachadas, dá movimento e alegria a estas, principalmete por expor vegetação e mobiliário caracterizando sempre e informando se a casa é habitada ou não...
(1) Ponce, Alfonso Ramírez, Pensar e Habitar, artigo disponível em: www.vitruvius.com.br/.../arq024/024_02_04.jpg de 25/06/2007

OS ELETRODOMÉSTICOS

A evolução urbana e a fuga do campo vão fazer surgir, o banheiro em casa, o corredor que individualiza os quartos, a cozinha...
Com a 'revolução dos filhos' e a crescente vontade de privacidade, os quarto individualizaram-se primeiro entre pais e filhos, depois o quarto dos filhos separou os sexos: meninos x meninas, e agora com a diminuição da quantidade de filhos por família, quem pode tem um quarto pra cada filho.
A sala que primeiro abrigou o rádio sem muita recepção arquitetônica, recebeu logo depois a TV que teve lugar de destaque na sala. Esta passou a ser projetada para no mínimo receber móveis de sentar e um de suporte para ela.
A cozinha e área de serviço, confortavelmente estão dentro de casa: fogão, geladeira e pia são hoje, o mínimo. A dona de casa tem estado cada vez menos em casa, por isso, os eletrodomésticos serviram mais ao serviços de casa que a qualquer outra atividade, lavadora de roupas, de louças, secadora de roupa, freezer, microondas... O entretenimento vem logo depois. As cozinhas mais modernas, têm de abrigar tudo isso no mínimo possível de espaço, pois a individualização dos espaços é cada vez maior: quarto de estudos diferente de escritório, sala de tv separada da sala de estar, sala até pra DVD. A busca de espaços diferenciados dentro da casa, que possui área cada vez menor, é respondida e buscada pelos profissionais com espaços de uso múltiplo e com uso de tecnologias. Exemplo: sala de estar possui um armário que esconde o home theater; escritório com sofá que vira cama para hóspede...
Com o passar do tempo, a violência e a insegurança das ruas, juntamente com a revolução eletrodoméstica e depois tecnológica, faz com que o homem queira estar em casa, mas cada vez mais buscam qualidade. Surgem então os condomínios fechados de casas ou apartemeno que tentam oferecer tudo, local e equipamentos de esporte, local para festas e até a 'rua particular'.

BRASIL

As técnicas importadas ou adaptadas para a construção de moradias no brasil são-nos velhas conhecidas... Madeira nos primeiros instantes da colonização (pela ausência de mão-de-obra), cal e pedra logo mais tarde (com a obtenção de cal das conchas), construções de terra (bandeirantismo)... Mas que qualidades espacial e estética ofereciam essas moradias?
A cidade de Paraty-RJ, com seu início datado no séc XIV, possui residências tombadas, veja foto. São enfileiradas, sem afastamentos lateral ou frontal, originalmente sem calçadas.
Talvez por ja possuírem terras, e o local ainda ser emoldurado pelas belezas naturais, os moradores desse tipo de casas e dessa época, não se preocupavam com jardins, bosques, quintal... Em busca da modernidade excluíam o trabalho (fortemente ligado à terra) da 'cidade', da sua 'civilidade'... Mais tarde com a cultura do café surge até a expressão "SEM EIRA NEM BEIRA", que caracteriraza o homem sem posses. A qualidade do espaço interno ainda se restringe ao abrigo e local de dormir... sem banheiro e com cozinha 'fora' da ambiência das casas. Adaptando o uso ou gerando novos materiais às condições sociais existentes encontrei uma explicação para essa atitude frente ao local de morada:
No Brasil a condição térmica leva o habitante a estar sempre fora de casa. No inverno, sai para tomar um solzinho e no verão, para tomar a fresca... As crianças e os idosos que possuem mais tempo livre para estar em casa, raramente estão... Os velhos querem olhar ver os acontecimentos e as crianças brincarem... inclusive estar em casa nessa época é sinal de castigo, para aqueles que não se comportem: " - Passa já pra dentro!" (1)
Na hora de dormir, surgem umas divisões de quarto funcionais. Com a ausência de corredores para chegar aos cômodos: os quarto que abrigam mais de duas camas de solteiro para os filhos são passagem para o quarto dos pais. Desse modo, os pais tinham certa privacidade e podiam controlar melhor os filhos.
A sala é um ambiente pequeno para receber os "de fora", e geralmente dá acesso a cozinha por outro cômodo (utilizado como copa) que é um telhado-varanda em meia-água para proteger o fogão de barro.
(1) Graeff, Edgar de Albuquerque, Cidade Utopia, Editora Vega-SP, 1979

Habitação Medieval e o espaço privado

Basicamente, a configuração típica da habitação medieval européia consistia em um único grande recinto, presente desde a casa camponesa, feita de madeira e adobe até os imponentes castelos de pedra dos senhores mais poderosos.
Na planta-esquema de uma casa camponesa, vemos à esquerda animais e feno; à direita, mais próxima ao fogo uma área destinada ao homem. Apesar de não haver divisão com um corpo físico, é possível perceber uma hierarquia espacial onde o uso humano é priveligiado próximo ao fogo, com a presença das camas representadas pelo número 4. Uma parte mais comum com arcas e mesa com acentos (representadas com o número 3 e 8 respectivamente) está mais central e próxima à porta, numa tentativa de manter alguma privacidade e de demarcar espaços. Há um numero reduzido de móveis e em uma cama, que podia ter larguras variadas, dormiam até 8 pessoas. A única forma de privacidade dentro da residência era uma cortina em volta da cama. A casa contava com um acesso e geralmente uma só janela que estavam sempre fechados para manter e aquecimento. O piso era terra batida, por vezes forrado com palha ou junco. A diferença da casa urbana, é que, quando pertencia a um artesão era provida de segundo piso: oficina no térreo e moradia no superior, onde a planta de ambiente único se repetia. Só que a aglutinação de pessoas deixavam as casas cada vez mais fechadas.
“Fica mais fácil entender a moradia medieval se levarmos em conta que os homens da época passavam muito pouco tempo em casa. Os pobres trabalhavam do nascer ao pôr do sol, e os nobres viajavam a maior parte do tempo. A vida era levada ao ar livre, e a residência, tanto a choupana do camponês quanto o castelo do senhor feudal, não passava de um dormitório ou um providencial refúgio contra as intempéries ou o frio do inverno. Somente com o passar do tempo o conceito de "lar" foi tomando forma, e só a partir daí houve melhorias significativas no desenho do espaço privado.” (1)
Ainda como que aprisionado, da mesma forma que fala o “mito da caverna”, o homem está preso ao trabalho que deve ao seu senhor baseado numa religião aprisionadora e interesseira e talvez por isso a moradia do homem pareça tão ainda com uma caverna real, sem as qualidades que se espera hoje para uma moradia. Antes de antropomorfizar a sua casca protetora, este homem-escravi-animal precisa se antropomorfizar e sair para fora da caverna de si mesmo em busca da libertação.
(1) Jr., Amiraldo M. Gusmão, A experiência do apocalipse,

A CASA GREGA e ROMANA

“As casas gregas (entre os séculos VI e V a.C) eram construídas com dois ou três cômodos, tendo ao seu redor um grande jardim, sendo feitas basicamente com pedras, madeira ou ainda tijolos. Casas maiores ainda possuíam cozinhas, um espaço para banhos, uma sala de jantar para homens e, talvez, uma área onde as mulheres podiam sentar-se e conversar. Os jardins eram utilizados para que homens e, especialmente as mulheres, pudessem receber amigos ou apenas apreciar uma boa conversa sem sair de casa. Era comum que as mulheres costurassem ou tecessem malhas no jardim de suas casas.
Os gregos da Antiguidade gostavam muito de contar e ouvir histórias e fábulas. Uma de suas atividades favoritas consistia em reunir a família no jardim para que as crianças pudessem escutar as histórias contadas pelo pai ou pela mãe. ... Outra atividade comum nos jardins gregos era cozinhar e apreciar parte de suas refeições em seus belos e bem cuidados jardins.”
(1)


Peristilo da Casa Vertti na cidade romana de Pompéia - Fonte: br.geocities.com/vulcoes/Cidadesromanas.htm

“Examinemos a disposição de uma das casas descobertas nas minas de Pompeia. A entrada ou prothyrum n.º l, conduz ao atrium n.º 2, chamado displuviatum, isto é que servia para o despejo das aguas da chuva para fora da habitação. Tinha na grossura da parede o impluvium n.º 3 e 4, e os alegretes para as flôres.
Uma escada de madeira n.º 5, conduzia ao aposento que occupava o dono da casa e a sua familia. Posto que a escada estivesse inteiramente destruida, era facil observar o feitio do corrimão, porque o artista a riscara na parede que lhe servia de caixa.
Os quartos 6 e 7 eram destinados para receber os estrangeiros e os amigos. O escravo que guardava a porta da rua devia dormir no quarto n.º 8, onde se conservava tambem de dia. Era pequena a cosinha n.º 9 colocada ao lado do corredor.”
Figura e texto (2)

Percebemos, através dos textos e imagens, que uma casa grega, possui divisões com barreiras fixas em alvenaria, inclusive com setorização de funções sociais no térreo, com parte de serviços à frente, quarto de visitas ao fundo, separada dos serviços pelo pátio/jardim, enquanto o pavimento superior é reservado ao morador, resguardando sua intimidade.
A sociedade grega é estratificada, portanto a casa de cada cidadão se moldava às suas necessidades. Neste exemplo a familia tinha apenas 1 escravo que servia de guarda, por isso estava dentro da residência, mas há casos de grandes casas muitos cômodos e patios e jardins que ajudavam a setorizá-los - ver em (4). Os jardins e pátios, além disso eram locares de estar, de reunião e de diversão para toda a família.
Apesar de o lote, nesse caso nao ser regular, há busca de aspectos retomados mais adiante no tempo com o “projeto clássico” como a busca da simetria, justaposição dos compartimentos em volta do pátio e métrica no posicionamento das colunas.


(1) Machado, João Luís Almeida, Recortes da vida cotidiana na Grécia Antiga, artigo disponível em www.planetaeducacao.com.br/novo/artigo.asp?artigo=265 de 01/07/2007
(2) Silva, Joaquim Possidonio Narciso da, Noções Elementares de Arqueologia, Documento digitalizado datado de 1878 ao principe D. Carlos Fernando Pedro d'Alcantara, disponível em:
http://www.classicistranieri.com/portuguese/1/7/1/8/17186/17186-h/17186-h.htm

HABITAÇÃO NA PRÉ-HISTÓRIA

Do Paleolítico até o final do Neolítico...

Abrigos naturais
É concorde entre os estudiosos que as primeiras construções conhecidas do homem primitivo não eram destinadas à habitação, mas como templos ou câmaras mortuárias, isso no fim do final do Neolítico... Então onde e como habitava o homem primitivo? Através de vestígios como fósseis, artefatos e pinturas encontrados em cavernas, acredita-se que tenha sido nelas, uma HABITAÇÃO APROPRIADA. Mas e quando não havia cavernas? Sim, porque nem todo sitio geológico tem as características necessárias para a formação delas... Este homem poderia por exemplo gerar uma HABITAÇÃO ESCAVADA, antropomorfizando um bloco de solo, para gerar sua casca protetora. Ainda hoje grupos humanos conservam o hábito de escavarem rochas e solos para habitar.

Fig.1 Fig.2

Fig.1: Casa “troglodita”, Matmata, Turquia - Fonte:http://www.rotas.xl.pt/1003/a04-00-00.shtml

Fig.2: Galho em forquilha - Fonte: http://sleekfreak.ath.cx:81/3wdev/VITAHTML/SUBLEV/GIF/HCAX70B.GIF

Abrigos artificiais
A criação de tendas e outras construções simples está ligada ao fato de que os abrigos naturais eram fixos, às vezes mal situados e úmidos, circunstâncias negativas para um coletor ou caçador sempre em movimento. A diferença entre esse abrigo e o anteriormente citado aqui é a introdução de elementos estruturais como pilares em “forquilha” e barrotes em viga. No caso de construções semi-subterrâneas, a viga recebe fechamento em gravetos e é revestido com solo ou palha. Essas construções temporárias permitiam que o homem pudesse reconstruí-las sempre que necessário, quando houvesse matéria-prima. Os iglus são um bom exemplo desse tipo de abrigo. Os abrigos artificiais pela sua aparência, uma espécie de caverna recriada.

Fig.3

Fig.3: Casa subterrânea - Fonte: Ching, F.D.K., Dicionário visual de arquitetura, Martins Fontes-SP, 2003
Em qualquer uma dessas habitações, que começam a surgir desde o Paleolítico Superior, o seu aspecto formal está intimamente ligado à natureza, principalmente pela sua materialidade (solo, pedra, palha,...) e localização (florestas, campos, desertos,...), pois camuflavam-se com o sítio, ou intencionalmente – por proteção ou não – simplesmente pelo condicionante matéria-prima e até pela forma que remete à caverna.
Há um elemento sempre presente nelas, nos locais em que o homem aprendeu a dominá-lo: o fogo.
A construção, utilizada basicamente como abrigo (pois no restante do tempo o homem perambulava à procura de comida), era um ambiente único, em que no centro se localizava a fogueira, que servia tanto para aquecer quanto para afugentar animais e também para cozinhar. Os abrigos artificiais geralmente contavam com uma abertura na cobertura que servia como chaminé, respiradouro e acesso. Quando muito, essas construções tinham apenas mais uma abertura, diferenciando o local de acesso.
Referência: Lucas, Claudinei, Habitação - Em: http://www.coladaweb.com/diversos/habitacao.htm

HABITAR...uma introdução...

ARQUITETURA, A CASCA HUMANA


Para habitar é necessário pensar. E não consegui formular ou resumir em melhores palavras que essas, que expressam essa afirmativa, por isso resolvi repassá-las aqui:

“A única possibilidade que o homem tem para ser e estar no mundo é habitando-o, nos diz o filósofo alemão Martin Heidegger.
Como o mundo em seu estado natural não é habitável, não basta ao homem sua condição individual para sobreviver. Por necessidade tem que reinventar o mundo. Inventa uma segunda pele que o proteja e lhe garanta um espaço habitável onde possa produzir e reproduzir sua vida. Uma pele que lhe propicie a comodidade, a segurança e o deleite que necessita para viver plenamente.
A essa segunda pele temos dado o nome de Arquitetura.
A função histórica e social da arquitetura tem sido a criação necessária de um espaço humanizado, um espaço feito à imagem e semelhança do homem para que este sobreviva. Um espaço que o homem possa habitar, um espaço antropomorfizado.”(1)

Os primeiros atos culturais do homem, segundo Ponce (1) citando Freud, são o emprego de ferramentas, a dominação do fogo e a construção de habitações.

(1) Ponce, Alfonso Ramírez, Pensar e Habitar, artigo disponível em: www.vitruvius.com.br/.../arq024/024_02_04.jpg de 25/06/2007